quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Velhos papéis

Sabe quando vc dá de cara com alguma coisa assim, do passado? Pois mexendo em papéis achei esses:

Quando amamos somos acossados, atormentados por dois impulsos concomitantes, mas opostos: queremos ver o objeto do nosso amor feliz, contente, em sua plenitude, mas queremos também que essa plenitude exista conosco; queremos e não queremos que o ser amado se submeta a nós porque, em se submetendo, ele perde a sua espontaneidade, queremos e não queremos possuir o ser amado porque não queremos que ele perca toda a riqueza que é ter vida própria.
Sartre
(da minha agenda em 1979)

..... viu um cão desmanchando de sarnas. Essas coisas tão comuns de se ver da janela. Mas sonhava que alguma coisa diferente aconteceria, que alguém um dia por ali passaria. Mas nada acontecia. E ela esperava. Chegou um dia em que ela própria esqueceu que esperava e o que esperava, mas ficar ali, debruçada na janela, tornou-se ela, como se a moldura fizesse parte do seu corpo. Os seus olhos já não mais se acostumavam longe daquela paisagem tão incorporada em suas pupilas. Seus braços tinham a forma cruzada, grudados no peitoril, e suas costas envergavam em uma curva dolorida. Aí, ele apareceu, mais bonito e brilhante do que qualquer estrela que ela já tinha visto. Veio manso, tentador, galanteador. Nenhum momento de indecisão. Desfez-se aquela figura arcada, ela empertigou-se e firmemente caminhou. Aos poucos ganhava a porta, o jardim, o portão. Sentiu a areia sob seus pés, a lua em seus cabelos e a noite em seus pulmões. Entrou e partiu no disco voador.
(Esse fui eu que escrevi. Gostei. Da minha agenda em 1978)

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